ONU cobra resposta de Bolsonaro sobre morte de Marielle
O
governo de Jair Bolsonaro recebeu, em seu primeiro dia no cargo, uma carta
enviada por relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) que cobraram dele
respostas urgentes para esclarecer o assassinato de Marielle Franco (PSOL). O
assassinato da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, completa 300 dias
sem que ninguém tenha sido detido.
Apesar
do sigilo do material, o Estado apurou com três fontes diferentes que
o texto da carta cobra do governo explicações sobre o andamento das investigações
sobre a morte da vereadora do Rio de Janeiro e pergunta o motivo pelo silêncio
até agora sobre os resultados do inquérito.
O
texto ainda faz um alerta ao governo: os relatores, apesar do sigilo, poderiam
considerar fazer uma declaração pública à imprensa internacional para alertar
sobre a queixa dirigida ao Brasil.
O
sigilo na carta será suspenso em março, quando a queixa e a eventual resposta
do governo brasileiro serão publicadas nos sites da ONU. O Estado apurou
que, por enquanto, nem o Palácio do Planalto e nem o Itamaraty deram uma
resposta à cobrança feita pelos relatores.
Mas
o documento foi interpretado como um sinal por parte dos especialistas
internacionais de que irão acompanhar de perto a aplicação da política de
segurança e de direitos humanos por parte do novo governo.
Entre
os relatores, os comentários de Bolsonaro sobre a forma de lidar com a
violência no Brasil e seu questionamento sobre direitos humanos tem sido alvo
de extrema preocupação.
No
final do ano passado, a viuvá de Marielle, Mônica Benício, esteve na ONU para
também pedir o apoio da entidade no que se refere à falta de esclarecimentos na
morte da vereadora.
Essa
não é a primeira vez que os relatores da ONU questionam o Brasil no que se
refere ao assassinato. Marielle foi morta no dia 14 de março de 2018. No dia 22
daquele mês, dez relatores da ONU se uniram para emitir uma carta dura às
autoridades brasileiras, pedindo que a intervenção federal no Rio de Janeiro
fosse repensada e exigindo respostas diante do assassinato de Marielle Franco.
Os
peritos ainda enviaram uma carta ao governo brasileiro e deram 60 dias para que
esclarecimentos sejam apresentados. Não se trata de uma obrigação legal. Mas,
dentro da ONU, ignorar um pedido de um relator é interpretado como um gesto
político de que um governo não dá a devida legitimidade a um sistema que ele
mesmo criou.
"Uma
preocupação muita grave é expressada na morte de Marielle Franco e seu
motorista, que pode ser relacionada como o exercício legítimo de seu direito de
liberdade de expressão, sua participação na vida política e pública",
declaram na carta os relatores em março de 2018.
Ao
solicitar investigações "independentes, imparciais, transparentes e
efetivas", os relatores apresentaram uma lista de cinco solicitações às
autoridades brasileiras, entre elas a divulgação de detalhes das investigações
sobre o assassinato.
O
grupo ainda pediu que fossem explicadas as medidas que existem no Brasil para
"garantir que os defensores de direitos humanos possam realizar seu
trabalho legítimo sem ameaças ou atos de intimidação". Para completar, os
relatores solicitaram que fossem fornecidas "informações detalhadas sobre
as medidas tomadas por autoridades para proteger aqueles que participam da vida
pública e política contra a violência".
Resposta
Ao Estado,
o Itamaraty confirmou que está trabalhando em uma resposta aos relatores.
"O governo brasileiro recebeu a comunicação conjunta do Escritório da Alta
Comissária para os Direitos Humanos (EACDH) em 2 de janeiro e responderá à
comunicação dos procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos ao
longo desta semana, tão logo esteja concluída a versão das informações a uma
das línguas de trabalho das Nações Unidas", indicou a chancelaria, por
meio de uma nota.
"Na
referida comunicação, os titulares dos procedimentos especiais fazem referência
a informações já fornecidas pelo governo brasileiro em março e setembro
passados, assim como solicitam esclarecimentos adicionais sobre o assassinato
de Marielle Franco", esclareceu.
"A
comunicação informa, ainda, que seu teor e o de eventual resposta do governo
brasileiro serão publicados, dentro de 60 dias, na página eletrônica do
EACDH", completou o Itamaraty.
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