O
entrevistado do Roda Viva desta noite foi Michel Temer, presidente da
República. Formado em Direito pela Universidade do Largo de São Francisco,
Temer foi deputado federal por seis mandatos consecutivos e presidiu a Câmara
por três vezes. Eleito em 2010 vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma
Rousseff, reelegeu-se em 2014. Em agosto deste ano, com a decretação do
impeachment, ele assumiu em definitivo a chefia do Poder Executivo, que exercia
interinamente desde o afastamento provisório de Dilma pelo Congresso.
Gravada
na sexta-feira no Palácio da Alvorada, a entrevista ao Roda Viva foi a mais
longa e abrangente concedida pelo presidente da República. A pauta de assuntos
incluiu a crise econômica, as relações com o Legislativo e o Judiciário, a PEC
do Teto, a Operação Lava Jato, as reformas previdenciária, trabalhista e
tributária, a reeleição, o tratamento a aliados acusados de corrupção, os mais
graves problemas que herdou do governo anterior, o caso de amor entre Michel e
Marcela Temer e o romance que planeja escrever. Confira alguns trechos da
entrevista:
“O Romero
Jucá ainda não teve sua morte política decretada, nem sua morte civil. Nós no
Brasil estamos muito acostumados com isso: Se alguém fala de outrem,
imediatamente há uma condenação prévia. O Jucá deixou o governo porque
quis, eu não o demiti. Os demais ministros que deixaram o governo também o
fizeram por conta própria. Jucá, além de estar com todos os seus direitos
políticos preservados, é capaz de uma articulação extraordinária. Não vejo
razão para não exercer a liderança do governo”.
“Já
descartei a reeleição inúmeras vezes. Cheguei à Presidência pela via não só
eleitoral, mas especialmente constitucional, porque foi a Constituição que
determinou que, em face do impedimento da senhora ex-presidente eu deveria
assumir. Em condições dificílimas, com o país quase a beira de um precipício
econômico. Meu sonho é trilhar esses dois anos e dois meses e, ao final, o povo
olhar para mim e dizer ‘esse sujeito colocou o Brasil nos trilhos’”.
“Sempre
falo em reconstitucionalizar o país, porque as nossas instituições estão
inteiramente desprezadas”.
“Desde
que assumi como interino fiz uma aproximação grande com o Congresso. Numa
democracia é preciso governar junto com o parlamento. Você precisa desse apoio
para garantir a governabilidade”.
“O
Marcelo Odebrecht foi ao Palácio do Jaburu dizendo que queria colaborar com as
campanhas de políticos do PMDB e que iria aportar R$ 10 milhões para o partido.
Os empresários não apreciam dar o dinheiro diretamente para o candidato, eles
querem fazer pelo diretório nacional. Quando você pega a prestação de contas do
PMDB, os R$ 10 milhões da Odebrecht estão lá. Mas não existiu aquela
história de que R$ 6 milhões desse dinheiro foi para o Duda Mendonça .
Temos toda a comprovação do que entrou e do que saiu. Não tenho nenhuma
preocupação com isso”.
“A
paridade entre as previdências do setor público, do setor privado e da classe
política virá com a aprovação da proposta de readequação previdenciária. Está
prevista, já examinei e aprovei. Não há razão para essa diferenciação”.
“Aprovamos
um Orçamento para 2017 levando em conta o teto de gastos. É como se a PEC já
tivesse sido aprovada. No Orçamento deste ano, os aumentos para as categorias
funcionais foram contratados por escrito no governo passado”.
“Eu não
só fui eleito com a presidente, como fomos eleitos por força de uma conjugação
do PMDB com o PT. Uma aliança eleita por pouco mais de 3,2 milhões de votos. A
minha presença na chapa assegurou o apoio de 23 ou 24 estados da federação. Se
o PMDB não estivesse lá, talvez metade dos votos tivessem ido para outro
candidato. Então eu tenho legitimidade”.
“Há mais
de 2 anos e meio não se fazia a revisão do auxílio doença. Com isso, calculamos
que haverá uma economia de R$ 7 bilhões. Isso de certa forma surpreendeu pela
inapetência administrativa”.
“Estou
convencido de que o parlamentarismo é o sistema mais útil para o país”.
“Espero
que se, houver acusações contra o ex-presidente Lula, que elas sejam
processadas com naturalidade. Mas se você me perguntar ‘se o Lula for preso,
isso causa instabilidade?’ Acho que sim, porque haverá protestos de movimentos
sociais. Uma prisão do Lula pode criar problemas, não tenho dúvidas”.
“Não
gosto de olhar para o meu retrato na parede, porque parece que eu já morri. Mas
estão insistindo tanto para que eu coloque o retrato como presidente, como
simbologia, que estou pensando no assunto”
A bancada
de entrevistadores reuniu os jornalistas Willian Corrêa (diretor de Jornalismo
da TV Cultura), Eliane Cantanhêde (colunista do Estadão), João
Caminoto (coordenador de Jornalismo do Grupo Estado), Ricardo Noblat (colunista
político do Globo) e Sérgio Dávila (editor-executivo da Folha).
O programa foi transmitido pela TV Cultura.
Fonte: Revista VEJA