Acompanhe uma conversa entre atores de Salve Jorge e Especialistas Falando sobre a "Alienação Parental". Máteria Exibida no Fantástico


O que fazer quando um casal em conflito envolve os filhos na briga? Isso está acontecendo na novela "Salve Jorge" e tem nome: chama-se alienação parental. Convocamos os atores da novela, especialistas e pessoas que já viveram esse drama na vida real para discutir as consequências desse comportamento, especialmente para as crianças.
Diego tem 27 anos. È um empresário bem sucedido, que mora com o pai, por escolha própria. A infância e a adolescência foram longe dele. Quando os pais se separaram, Diego e a irmã, que ainda eram crianças, ficaram no meio da briga.
É o que acontece na novela “Salve Jorge”, com os personagens dos atores Letícia Spiller e Caco Ciocler. Celso, o pai, usa a filha para atingir a ex-mulher, Antonia. Isso se chama alienação parental.
“A alienação parental é a prática do pai ou da mãe afastar o outro da vida da criança. O pai ou a mãe usa a criança como instrumento de vingança”, explica a advogada Ana Gerbase.
Isso é mais comum do que se imagina. Os especialistas dizem que a maioria dos filhos de pais separados já sofreu algum tipo de alienação parental.
Para discutir essa tema, o Fantástico reuniu os dois atores da novela; a psicóloga Andréia Calçada, especialista no assunto; Sérgio Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Criança Feliz, uma ONG que dá apoio a famílias vítimas de alienação; e o Diego.
Fantástico: Você é a prova de que isso não é só um assunto de ficção, quer dizer, isso acontece mesmo na vida real?
Diego Bakker: Acontece, acontece muito. A separação dos meus pais foi um pouco complicada. Minha mãe orientava: ‘Se você não falar quando chegar em casa que seu pai foi lá na escola e visitou você e seu irmão, você apanha também’.
Fantástico: Ela não queria, portanto, que você tivesse contato com seu pai? De jeito nenhum?
Diego: Não, não queria. Falava mal, dizia que ele não prestava. Minha mãe já brigava com a gente ou então batia na gente até para não ter esse contato com ele.
Sérgio Rodrigues: É uma escala. Começa com pequenas palavras, vai subindo com os impedimentos de convivência, depois a um certo nível já começa a fugir, trocar de cidade.
Desde 2010, uma lei federal protege as crianças desse tipo de trauma.
“O juiz deve advertir o pai ou a mãe que está alienando. Ele pode indicar acompanhamento terapêutico e até inversão da guarda: tirar a guarda desse pai ou dessa mãe que está alienando e entregar para a parte que está sendo alienada. Essa é a penalidade mais grave que pode acontecer. Hoje a dificuldade de se aplicar qualquer, de tratar da alienação parental, judicialmente, é a dificuldade de identificar essa prática”, diz a advogada Ana Gerbase.
A Justiça dá às mães a guarda das crianças em quase 90% dos casos. Mas o número de guardas compartilhadas vem crescendo nos últimos anos: de 2,7% em 2000 para 5,5% em 2010, segundo o IBGE.
“A guarda compartilhada tem essa função de dizer: ‘Olha, o filho não é só seu. É de ambos e os dois têm que participar”, comenta a psicóloga Andréia Calçada.
“Compartilhar o filho não é rachar o filho no meio e botar tantos dias com um, tantos dias comoutro. Não, é compartilhar a criação daquele filho. É participar do dia a dia, da educação, da escola, do médico”, opina Rodrigues. “Pode morar num país distante, diferente, mas que ele conviva, que ele chegue até o lar e diga: ‘Filho, eu estou aqui, como é que está a sua escola? Foi no judô? Manda as fotos pro pai’, essa coisa toda. Tem que haver interação do pai, mesmo à distância, pro filho saber: ‘Eu tenho pai’”.
Na novela, o personagem de Caco Ciocler não aceita a separação.
“Ele não sabe o que fazer com essa rejeição. Ele está se sentindo traído, rejeitado e não tem como mais atingir essa ex-mulher”, analisa Caco Ciocler.
“E acaba se sobrepondo ao bem da própria criança, né?”, completa Letícia Spiller.
“E não está percebendo o mal que está fazendo para a criança. Esse é o grande problema. Então, até onde vai o limite do bom senso, do que prejudica, do que não prejudica? O problema é que pelo o que a gente tem ouvido as coisas são piores do que estão sendo mostradas na novela e isso pode chegar a lugares muito loucos”, diz Caco.
“A criança fica dividida. Ela não pode ficar nesse jogo, um pra cada lado, escolher entre os pais. Os dois pais são dela. Ela tem direito aos dois. Então, isso é pesado demais”, avalia Rodrigues.
Fantástico: Uma cena bem típica é aquela negociação do fim de semana. É atrapalhar mesmo o fim de semana da outra pessoa.
Letícia: Se fosse eu, com certeza teria cedido o fim de semana ao pai.
Andréia: O problema é que dentro da alienação parental isso não acontece. Isso aí vai ser usado como forma de dizer: ‘Está vendo, ela não gosta de ficar com a mãe’.
Caco: A criança também começa a criar essa associação de que com o pai é a diversão e com a mãe são as normas, a escola, a lição de casa.
Diego: Quando ela chegar no convívio do pai de novo, vai chegar em casa e falar: ‘Está vendo, ela não deixou e tal’. Então usa contra. É usado contra.
Andréia: A ideia é implantar na cabeça da criança de que ela é a chata, ela não deixa ela se divertir. É alterar a percepção da criança acerca dessa mãe. 
Letícia: Por exemplo, eu e Marcelo, eu e Lucas, por exemplo, a gente sempre teve essa preocupação de estar falando a mesma língua com a criança. Então, o Marcelo me liga e fala: ‘Olha, ele fez isso, isso e isso, eu vou dar esse castigo assim, assim, porque eu acho que ele vacilou. Então, você mantém aí a minha posição’. Ok. A gente combina as coisas. Agora, no caso de pessoas que não se entendem, se você não tem diálogo com seu ex-marido, como é que você vai, como é que vai ser a rotina dessa criança?
Fantástico: A Letícia falou de uma situação que é muito comum também nesses casos de alienação parental que é a falta de comunicação.
Sérgio: Quando um tenta ensinar a rotina e o outro tira todo esse compromisso, essa criança vai ser uma criança totalmente perdida, sem referências. Sem o compromisso de horário, não vai ter estabilidade no emprego. Na escola, vai ter problema,
Andréia: Dependendo do grau de alienação, isso gera dificuldades futuras em termos de relacionamento, em termos de desempenho acadêmico, problemas psiquiátricos. Ela reproduz isso nas relações com os futuros cônjuges, com os filhos.
Fantástico: Como é que os pais pedem ajuda? Como é que esses pais se encaminham pra resolver essa situação?

Ana: Normalmente eu digo que a primeira pessoa que eles devem procurar é um terapeuta. E depois de organizados emocionalmente, procurem um advogado.
Letícia: Concordo. Na época que eu estava prestes a me separar, nós fizemos terapia de casal e foi muito bacana de ter feito, sabe. Para esclarecer.
Andréia: Um psicólogo ou alguém que trabalhe com mediação no sentido de fazer, de melhorar o diálogo, de fazer com que este ex-casal consiga conversar, colocar como foco principal a criança.
Caco: Por isso que enquanto a pessoa não estiver tranquila, tranquila não sei se é a palavra, mas se não tiver entendido na alma essa separação, não tem jeito.
O Diego diz que conseguiu superar o trauma da infância.
Letícia: E como é que foi que você reagiu ao seu pai?
Diego: Eu não aceitei isso para mim porque eu tinha um pai vivo e não podia ter contato com ele. Quando eu comecei a enfrentar o problema não tinha essa quantidade de informação que temos hoje.
Fantástico: Vocês têm noção de que essa discussão toda vai ajudar muitas famílias?
Letícia: Espero que sim. E eu diria que a vida é muito curta e que quanto menos a gente brigar e a gente aproveitar ela, melhor. Porque é isso que a gente vai levar dessa vida.

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